Edifício Martinelli: 100 anos de história no coração de São Paulo

Edifício Martinelli

No coração da metrópole paulista, ergue-se um gigante de concreto e aço que testemunhou um século de transformações: o Edifício Martinelli. Em 2024, o Edifício Martinelli, um marco da arquitetura moderna e símbolo da verticalização de São Paulo, celebra seu centenário. Outrora o mais alto arranha-céu da América Latina, o edifício comemora essa data histórica com uma série de eventos e uma revitalização que promete renovar sua grandiosidade e escrever um novo capítulo em sua rica trajetória.

A visão de um imigrante: a história por trás da construção

A saga do Martinelli começa com a chegada de Giuseppe Martinelli, um imigrante italiano, ao Brasil em 1889. Com determinação e espírito empreendedor, Martinelli prosperou, tornando-se um dos empresários mais ricos do país. Movido pelo desejo de deixar um legado duradouro, ele decidiu construir o mais alto arranha-céu da América Latina em São Paulo.

O projeto, ousado e inovador para a época, enfrentou desafios e polêmicas. O prédio, inicialmente planejado com 12 andares, foi sendo ampliado ao longo dos anos, chegando aos atuais 30 andares e 105 metros de altura. A obra, concluída em 1934, representou um marco na engenharia e na arquitetura, utilizando técnicas inovadoras como o concreto armado.

O desafio da construção: superando obstáculos e imprevistos

A construção do Martinelli foi uma verdadeira epopeia, repleta de obstáculos e imprevistos. As fundações do prédio chegaram a abalar uma construção vizinha, problema que Martinelli resolveu comprando o imóvel. Os complexos cálculos estruturais exigiram a importação de uma máquina de calcular da Alemanha. O próprio Martinelli, insatisfeito em apenas supervisionar a obra, colocava a mão na massa, trabalhando como pedreiro e transmitindo seu conhecimento aos operários mais jovens.

O prédio chegou a ser embargado por não ter licença e desrespeitar as leis municipais, gerando um debate sobre a verticalização da cidade. Uma comissão técnica garantiu a segurança do edifício e limitou sua altura a 25 andares. Martinelli, contudo, driblou a restrição construindo sua própria residência com cinco andares no topo, alcançando os 30 andares que tanto almejava.

Um símbolo de luxo e modernidade: a grandiosidade do Edifício Martinelli

O Martinelli impressionava não apenas por sua altura, mas também pela suntuosidade de seus detalhes. Portas de pinho de Riga, escadas de mármore de Carrara, vidros, espelhos e papéis de parede belgas, louça sanitária inglesa, elevadores suíços – o edifício era um verdadeiro catálogo do que havia de mais luxuoso e moderno na época.  

O prédio, com suas reentrâncias características para ventilação e iluminação, segue as três divisões básicas da arquitetura clássica: embasamento, corpo e coroamento. O corpo, pintado em três tons de rosa e recoberto por uma massa especial que continha sangue de boi e mica, cintilava à noite, inspirando o escritor Oswald de Andrade a apelidar São Paulo de “cidade bolo de noiva“.

Edifício Martinelli: Do auge à decadência e o desafio do fogo

A construção do Martinelli, apesar de grandiosa, trouxe sérios problemas financeiros para seu idealizador. Em 1933, Martinelli foi forçado a vender o edifício para o governo da Itália. Em 1943, com a declaração de guerra do Brasil ao Eixo, o prédio foi confiscado e passou a ser propriedade da União.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o “boom” imobiliário em São Paulo, o Martinelli perdeu o título de prédio mais alto da cidade. Em 1929, ainda em construção, o prédio enfrentou um grande desafio: um incêndio no 26º andar. O fogo consumiu a torre de madeira e a sala de máquinas, mas bombeiros, policiais e operários, unidos em um esforço conjunto, controlaram as chamas, formando um cordão humano para levar água até o topo do edifício.

Durante as décadas de 1960 e 1970, o edifício entrou em decadência, tornando-se um cortiço vertical com problemas sociais e de infraestrutura.

A revitalização: Edifício Martinelli renasce como ícone cultural

Em 1975, o prefeito Olavo Setúbal deu início a um ambicioso projeto de revitalização do Martinelli, que incluiu uma profunda limpeza e restauração do edifício. Quatro anos depois, em 1979, o prédio reabriu suas portas, agora como sede de diversas secretarias municipais, marcando um novo capítulo em sua história.

Edifício Martinelli, 100 anos: Um ícone paulistano

Em 2024, o Edifício Martinelli celebra seu centenário com o projeto “M100: Martinelli 100 Anos“, convidando a população a redescobrir seus espaços históricos através de visitas guiadas gratuitas e uma programação cultural diversificada. O projeto já atraiu milhares de visitantes e foi palco de eventos como o Design Week, a Feira Rosenbaum, a Cidade do Futuro e um desfile da São Paulo Fashion Week.

O terraço do edifício, com sua vista deslumbrante da cidade, se tornou um destino popular para paulistanos e turistas, além de ser cenário de grandes produções e festas.

O futuro do Martinelli: um espaço cultural e gastronômico vibrante

Após as celebrações do centenário, o Martinelli passará por uma reforma completa, com previsão de conclusão para 2026. O projeto, liderado pelo Grupo Tokyo, prevê a criação de espaços de exposição, gastronomia e cultura, além de um museu, restaurante, bares e espaços para eventos. A reforma também incluirá a modernização dos guarda-corpos, que serão de vidro com tecnologia de LED translúcido, permitindo que o Martinelli conte a história do passado com a vista do presente, projetando um futuro para a cidade.

Conclusão

O Edifício Martinelli é muito mais do que um prédio; é um símbolo da história de São Paulo, um testemunho da ousadia e da resiliência que moldaram a metrópole. Sua trajetória, marcada por desafios, superações e reinvenções, reflete a própria história da cidade. As celebrações do centenário e os planos para o futuro demonstram o compromisso em preservar e revitalizar esse ícone da arquitetura paulistana, garantindo que ele continue a ser um espaço vibrante e inspirador para as futuras gerações.

Fonte: www.prediomartinelli.com.br

Foto reprodução: Google Imagens

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